A ordem é relaxar...

O que você faz quando está esperando? Hoje em dia, temos mil formas de nos entreter enquanto aguardamos algo. Em tempos modernos e com a internet na palma da mão, você consegue acessar a sua conta no banco, resolvendo uma pendência necessária e otimizando o seu tempo, ou até mesmo assiste ao capítulo da novela que não deu pra ver no dia anterior. E ainda tem o Candy Crush, que ajuda bastante. Renatinha, uma das minhas chefes no trabalho, até me mostrou orgulhosa o seu novo passatempo: ela comprou um celular ultrapotente e me disse que, agora, assiste aos filmes pelo Netflix de onde estiver, na hora em que quiser, pagando R$ 29,90 por mês apenas. Mas e se falta bateria?! Deveríamos andar sempre com um livro na mochila, uma caderneta de contas e uma calculadora na bolsa, ter um caderninho de anotações em mãos para escrever algo produtivo para o corpo e para a mente...

Na semana passada, precisei exigir muito da minha paciência. Na sexta, fui ao médico para levar meus exames para que ele diagnosticasse e indicasse o tratamento de uma forte gastrite. A consulta estava marcada para as 14h – eram 14h40, o médico nem sequer tinha chegado e o consultório já borbulhava de senhorinhas adoentadas e impacientes. Confesso que sou um pouco dependente do celular (um pouco não, sou completamente viciado nas novas tecnologias e em redes sociais em aparelhos móveis), e, quando vejo aquela mensagem de bateria fraca, o nível de impaciência se multiplica inversamente proporcional à queda dos pininhos na tela. Dito e feito. Nem o Petruchio e a Catarina brigando no “Vale a Pena Ver de Novo”, passando na TV do consultório, segurou a minha ira. Mesmo com 100% de bateria ali, acho uma falta de respeito com o paciente essa espera infernal. E ainda temos que aguentar encaixes, consultas na sua frente... Mas foquei na minha gastrite, e tentei me acalmar com o cravo, a rosa e aquele embate divertido mesmo.

Já no sábado, saí bem de manhãzinha para dar uma ducha no carro. Se durante a semana nós não arrumamos tempo para dar um trato no companheiro diário e empoeirado, imagine como todos os postos de gasolina da cidade estavam lotados de veículos ávidos por um banho no sábado. E o pior: entrei na fila com as mãos abanando, pois tinha deixado o celular carregando em casa. E aí?! O que fazer nesses minutos que mais parecem horas para não deixar com que o seu sábado de folga já comece de mau humor? Vi um caderninho no painel do carro e comecei a escrever esta coluna. Quer inspiração melhor do que esta: escrever enquanto sente na pele o tema da semana?

O fato é que temos cada vez menos tempo pra nós. Somos de uma geração em que tudo é feito com rapidez. Não sabemos mais esperar, não queremos enfrentar filas e achamos que os nossos problemas são realmente maiores que os dos outros e, por isso, temos pressa e ficamos irritados quando não somos atendidos na hora e da forma que queremos. Certa vez, numa dessas demoradas filas de lotéricas, um senhor me disse sabiamente: “As pessoas deveriam parar de olhar para os seus umbigos, né, meu filho? Veja só... Eu tenho 83 anos e não pego a fila de prioridade. Estou numa boa aqui, faço amizades, converso sobre a vida”. É, ele tem razão! Mas colocar isso na prática é que é muito difícil. No mesmo sábado do posto de gasolina lotado, fui ao Carrefour com a minha mãe e a caixa estava mais devagar do que lesma de folga em dia santo. Além de lerda, ela ainda errava tudo, passava o produto duas vezes, chamava o gerente, um teste de paciência. Dei um toque, do tipo: “É, moça. Tem que prestar mais atenção. Tá atrasando a fila aqui, ó”. Ela só sorria. Ela é que é feliz. Nesses tais tempos modernos, a ordem é relaxar, deixar o pau quebrar. Só assim vamos levar a vida tranquila como a caixa do supermercado, sem deixar que o mundo ao redor atrapalhe a alegria que é acordar, respirar, amar, viver...

( Luiz Cabral -Coluna Luiz, câmera, ação no portal O Tempo):

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